Em nossa contemporaneidade, há de se observar que a produção literária destinada aos jovens tem apresentado cada vez mais obras protagonizadas por personagens femininas adolescentes com destaque para temas como o empoderamento feminino, a igualdade de gêneros , a sororidade, a denúncia do machismo, dentre outros, os quais encontram-se nas pautas feministas mais recentes, ou seja, exemplos da educação feminista por meio da literatura.Propomos uma reflexão sobre os romances Minha vida não é cor-de-rosa, de Penélope Martins e Ainda assim te quero bem, da mesma autora em parceria com Caio Riter, em que tais tendências podem ser observadas. Como referencial teórico, apontamos Bell Hooks, José Nicolau Gregorin Filho, dentre outros.
Resumo
A fome, a miséria, a guerra, perseguições e violações dos direitos humanos, enfim, questões políticas e sociais de toda ordem, têm obrigado milhares de pessoas a abandonar suas casas, famílias e pátria em busca de refúgio, esperançosas de retornar um dia, ou reconstruir suas vidas em terras distantes, ou simplesmente viver. Segundo a Acnur, (Agência da ONU para Refugiados), em 2020, o número de refugiados no mundo ultrapassou 80 milhões, sendo que apenas 30% são considerados formalmente como tais, considerando que mais de 4% ainda não encontraram refúgio, além dos incontáveis mortos durante frustradas tentativas de fuga. Na história, na mitologia e nas artes em geral, antigo é o tema da migração forçada , dos refugiados, pessoas exiladas, perseguidas, vivendo na diáspora, dentre elas muitas crianças, compondo o retrato perverso e atual de uma sociedade doente e em constante ebulição. A literatura está repleta de exemplos em que crianças protagonizam tão dura realidade. Pensando na literatura infantil, nossa área de estudos, levantamos alguns questionamentos: Como são figuradas as crianças refugiadas na literatura infantil? Que concepções de infância podemos depreender de narrativas que abordam temas tão sensíveis, histórias de sofrimento, abandono e resiliência? Com o objetivo de refletir sobre tais questões, propomos a análise da obra Dois meninos de Kakuma, de Marie Ange Bordas. Destacamos que a infância é uma construção social, condicionada a questões culturais, filosóficas, econômicas e por muitas vezes religiosas, assim, a partir de uma perspectiva social e histórica, podemos dizer que não existe somente uma infância, mas várias. Como aporte teórico, utilizaremos Marisa Lajolo, Regina Zilberman, Philippe Ariès, Collin Heywood, Carlos Reis e Walter Benjamin.
Introdução
"Quando Hans Christian Andersen nasceu, em 2 de abril de 1805, a Dinamarca era um país próspero e tranquilo, uma exceção em meio ao clima conturbado que assombrava toda a Europa, com as constantes e vitoriosas invasões de Napoleão Bonaparte, que culminaram na guerra contra a Rússia em 1812, quando esta pretendia invadir a Alemanha, aliada da França. Culturalmente, os escandinavos ligavam-se à Alemanha e por ela se influenciaram desde o pré-romantismo, não só na área das artes, mas também em seu penhor nacionalista, fato este que levou vários dinamarqueses a se alistaram no exército napoleônico, como foi o caso do pai de Andersen (Hans Andersen), que voltaria da guerra inválido e morreria em 1814, quando o pequeno tinha apenas nove anos.(....)"
(...) analisar a Rainha da Neve e suas sobrevidas torna-se bastante instigante e desafiador, principalmente se considerarmos que a personagem é bastante enigmática, pouco presente na narrativa de Andersen e com parcas falas, o que leva o leitor a se questionar de quem seria afinal essa rainha. Seria ela um ser divino, uma entidade da natureza, uma bruxa má, um ser humano amaldiçoado? Ela pode ser considerada uma representação do mal, já que consideramos que sua presença simboliza a morte? Ela pode ser considerada a vilã da trama? (...)
O conto “A Rainha da Neve”(Snedronningen , The Snow Queen, 1844), de Hans Christian Andersen, a heroica Gerda, o amaldiçoado Kay e a figura ambígua e misteriosa da bela rainha de cabelos platinados, que dá título ao conto, permanecem no imaginário de gerações e têm servido de inspiração para diversas adaptações e releituras tanto literárias quanto cinematográficas e televisivas. Este artigo se propõe a analisar, em um estudo comparado, as animações o Reino Gelado (Sniéjnaia koroleva), The Snow Queen, Wizart animation , Rússia, 2012) e Frozen: uma aventura congelante (Frozen, Disney, EUA, 2013), considerando que a produção norte-americana distancia-se muito do conto andersiano, apesar de a refiguração da bela rainha de poderes congelantes.
Os anos de 1970 são considerados como o “renascimento” da literatura infantil brasileira, um “grande surto criador”, nas palavras de Nelly Novaes Coelho. Nessa época, surgiram novos escritores consagrados até nossa atualidade, como Ana Maria Machado e Ruth Rocha, cujos primeiros trabalhos foram publicados na revista Recreio a partir de 1969.
Esse periódico, por sua vez, assumiu-se até 1982, em sua primeira fase, como divulgador de novos escritores e ilustradores, um espaço lúdico, pedagógico e incentivador da leitura, objetivando divertir e educar, conforme já antecipava seu slogan: "Leia e pinte, recorte e brinque”(...)
"Dentre os símbolos mais recorrentes e instigantes, presentes no imaginário de vários povos, destacamos o espelho, “speculum”, em latim: a superfície que reflete. Mas o que reflete um espelho, o que pode simbolizar? Para CHEVALIER e GHEERBRANT, “Já foi dito do espelho que ele é o próprio símbolo do simbolismo” (1982, p.394), nada mais simbólico a se desvelar.(...)
A bela e congelante Rainha da Neve, do conto homônimo de Hans Christian Andersen (Snedronningen, The Snow Queen, 1844), adquire sobrevidas em outras narrativas, tanto literárias como audiovisuais, permanecendo ainda viva no imaginário contemporâneo. Esse conto andersiano, de tessitura complexa, construído no contexto do romantismo, entre o espiritualismo cristão e o maravilhoso pagão, constitui-se em uma narrativa de formação, um rito de passagem da infância para a vida adulta, do qual depreendemos tanto o prenúncio para a morte, como os primeiros contatos com sexualidade. Este artigo propõe-se a analisar as simbologias depreendidas dessa misteriosa personagem refletidas, ou não, em suas refigurações Jadis, a feiticeira branca de As Crônicas de Nárnia, de C. S. Lewis e Elsa, da animação Frozen: uma aventura congelante (Disney, 2013) com destaque para o protagonismo feminino.
Este artigo é fruto de nossas pesquisas sobre as relações entre educação e literatura infantil e se propõe a apresentar um breve panorama das tendências pedagógicas no Brasil até meados dos anos de 1930, período de consolidação da Literatura Infantil Brasileira, denominado comumente por Período Lobatiano. Nosso intuito é contribuir com um contexto histórico e pedagógico para os pesquisadores de literatura infantil que optarem por esse período ou mesmo épocas futuras, já que algumas tendências do início do século XX podem ainda ser observadas em nossa contemporaneidade. O reflexo dessas tendências pedagógicas na literatura infantil da década de 1930 pode ser observado em nossa Tese de Doutoramento intitulada “A literatura infantil além do livro: as contribuições do jornal português O senhor doutor e da revista brasileira O Tico-Tico.
As relações entre imprensa e literatura têm sido amplamente discutidas, mas há uma grande lacuna quando nos referimos às produções para as crianças. A formação e a história da literatura infantil brasileira vai muito além dos livros.
Quando pensamos em literatura, logo nos vêm à mente nossos autores e obras preferidos, seus livros preservados em estantes. Quando pensamos na imprensa ou mesmo no jornalismo, surgem os jornais e as revistas como meios de comunicação voltados para a atualidade e para a informação, efêmeros em seu conteúdo e materialidade.
Entretanto, essa distinção nem sempre foi clara, tendo em vista que livros e periódicos, enquanto suportes, assim como seus respectivos gêneros, transformaram-se ao longo dos tempos, confundiram seus conteúdos, suas formas e mesmo suas funções sociais.